Editorial
Edição 104 > Crise capitalista: o terremoto ainda não terminou
Crise capitalista: o terremoto ainda não terminou
Qual será o desfecho da presente crise capitalista, a maior desde a Grande Depressão? Transcorrido seu “primeiro aniversário,” as respostas são inconclusas, pois o “terremoto” prossegue e suas consequências não se realizaram por completo.
Os “estragos” desde 2008 até o final deste ano são volumosos. A economia mundial, em 2009, deverá contabilizar um crescimento negativo. Estimativas da Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontam, para até dezembro, o corte de 20 milhões empregos. A miséria se espalha e, pela primeira vez, o número de famintos no mundo ultrapassou a barreira de 1 bilhão de pessoas. As Bolsas mundiais, somente entre janeiro de 2008 e janeiro de 2009, perderam mais de 15,5 trilhões de dólares.
A hecatombe não foi pior devido à gigantesca intervenção dos bancos centrais para salvar o sistema financeiro. Esta operação de socorro já sugou mais de 10 trilhões de dólares de dinheiro público! Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), os países ricos juntos gastaram 7,6 trilhões e as economias emergentes desembolsaram 1,6 trilhão. Esta colossal “UTI” prontamente acionada revela o grau em que o capital financeiro onera o conjunto da economia e o quanto ele é parasitário. Ele se sobrepôs à produção e se assenhoreou do Estado. “Estado mínimo” para a produção e o progresso social; “Estado máximo” à ganância do rentismo.
Segundo indicam estatísticas de distintas fontes, no ano próximo as economias do centro capitalista crescerão apenas 1%, enquanto as dos países emergentes poderão ir além de 4,5% em média. A recuperação das grandes potências (EUA, Alemanha, Japão) tende a ser lenta e a dos países em desenvolvimento (China, Índia, Brasil...) já se mostra rápida. Este fenômeno acelera as mudanças das relações de poder no século XXI. A dominação unipolar dos EUA que vigorou desde o fim da Guerra Fria se debilita e ganha força o surgimento de outros polos de poder.
Destacadamente, verifica-se o declínio relativo e progressivo do imperialismo estadunidense e, simultaneamente, adquire relevância crescente a China socialista. É um processo que se aguça, mas que não perde sua complexidade, sobretudo porque a potência hegemônica, os EUA, não está disposta a abrir mão de suas posições e ambições. Por isso, os anos vindouros ainda tendem a ser marcados pela instabilidade e por ameaças. De qualquer modo, este quadro favorece a acumulação dos fatores das mudanças progressistas e revolucionárias.
Na fase mais aguda da crise, no final do ano passado, ante os imensos custos econômicos e sociais provocados pelo reinado do capital especulativo e ante a derrota prática e ideológica dos postulados do neoliberalismo, criaram-se expectativas quanto à regulamentação do sistema financeiro. Regras, ao menos, para inibir a jogatina. Todavia, mal “foram enterrados os mortos”, o poder político e econômico que sustenta e se alimenta da lógica rentista entrou em ação. E até agora, em termos mundiais, nada de relevante foi instituído para reverter a liberação financeira. Em que grau haverá mudanças na estruturação do capitalismo contemporâneo, na sua dinâmica de acumulação, é algo que está em aberto.
No Brasil, a crise capitalista provocou danos, revelou os equívocos da política macroeconômica, mas graças às conquistas do governo Lula e às medidas adotadas para enfrentá-la, o país suportou o impacto e deve ter, em 2010, um crescimento de mais 4,5%. Esta situação fortalece a luta por um novo projeto nacional de desenvolvimento, com metas e objetivos ainda mais arrojados.
Por fim, inegavelmente, a presente crise ressalta os limites históricos do capitalismo. Sua condição, na contemporaneidade, de um sistema esgotado historicamente à medida que não consegue dar respostas às necessidades dos povos e dos trabalhadores. Evidentemente, perdura e projeta-se para o futuro porque ainda exerce larga dominância política e ideológica. Todavia, a crise pressiona pela construção de alternativas. Cresce a luta pela soberania e o desenvolvimento das nações. E, associada a essa jornada, floresce no Brasil e no mundo uma nova luta pelo socialismo. Socialismo renovado, enriquecido pelas lições da história e com as particularidades de cada nação.
Adalberto Monteiro
Editor