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Homenagem

Edição 104 > Carlos Marighella: um sonhador com os pés no chão

Carlos Marighella: um sonhador com os pés no chão

Osvaldo Bertolino
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No dia 4 de novembro de 2009 completa-se 40 anos do assassinato do revolucionário Carlos Marighella. Dirigente, parlamentar e teórico do movimento comunista, ele semeou ideias democráticas e progressistas por onde passou. Não sem motivo tornou-se alvo preferencial da ditadura militar imposta em 1964

Na noite do dia 4 de novembro de 1969, enquanto jogavam Santos e Corinthians no estádio do Pacaembu pelo torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Robertão, não distante dali, em frente ao número 806 da Alameda Casa Branca, um crime de Estado fez a data incorporar-se à história como um dos feitos mais sinistros da ditadura militar no Brasil – o assassinato bárbaro do revolucionário Carlos Marighella.

A arapuca fora armada pelo bando chefiado pelo delegado do Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo (Dops), Sérgio Paranhos Fleury.

Ele montou uma equipe que se disfarçou de trabalhadores – o local era uma área de edifícios em construção –, namorados e passantes para fuzilar Marighella dentro de um Fusca, sem nenhuma chance de defesa. Líder da Ação Libertadora Nacional (ALN), o revolucionário foi atraído para tal arapuca por meio de padres dominicanos com quem mantinha contato, submetidos ao terror do bando de Fleury.

A fuzilaria atingiu, além do alvo, uma policial que se passava por namorada do chefe do Dops; um protético que teve a infelicidade de passar pelo local na hora do crime (ambos morreram); e um delegado, que nunca mais se recuperaria dos ferimentos na coxa direita. O bando deixou o corpo de Marighella dentro do Fusca até as 23h15, quando foi recolhido pelo Instituto Médico Legal (IML).

Presença de João Amazonas

Coincidentemente, dois dias antes o dirigente máximo do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), João Amazonas – antigo companheiro de Marighella na militância comunista – estivera próximo ao local, em um encontro com sua mulher Edíria. Os dirigentes do PCdoB que estavam em São Paulo passaram o dia reunidos e à noite souberam, pela televisão, do ocorrido na Alameda Casa Branca.

O jornal A Classe Operária de novembro de 1969 – à época dirigido e editado por Carlos Nicolau Danielli, que também seria cruelmente assassinado pela repressão – registrou:

“Vítima de torpe cilada, vilmente fuzilado em plena rua pela polícia, morreu Carlos Marighella. O assassinato deste conhecido revolucionário é mais uma ação vergonhosa e covarde que se acrescenta à onda de inomináveis violências que a ditadura militar vem cometendo. A história do Brasil registra poucos crimes políticos tão infames, tão friamente planejados como o perpetrado na Alameda Casa Branca, em São Paulo. Dezenas de beleguins, poderosamente armados, à traição, levaram a cabo um homicídio puro e simples.

Esse monstruoso crime da ditadura é parte de todo um plano visando amedrontar, através do terror e do banditismo, os democratas e patriotas. Desesperados, inteiramente repudiados pelas massas, cada vez mais isolados, os generais que assaltaram o poder intensificam a repressão em todo o país, realizam toda sorte de arbitrariedades e praticam crimes os mais selvagens (...)”.

Marighella fora um eminente militante do Partido Comunista do Brasil e, depois, do Partido Comunista Brasileiro. Deputado pelo então PCB na Assembleia Nacional Constituinte de 1946, estudioso e teórico, conquistou admiração e respeito dos que lutam pela democracia e pelo progresso social em âmbito internacional. Daí a determinação da repressão de caçá-lo de maneira implacável e executá-lo com requintes de crueldade pelo bando que, com sua ação, manifestou a dimensão da usina de ódio montada contra ele.

Coragem indômita

As verdades fabricadas para encobrir mentiras sobre a sua memória de lutas – a propaganda da ditadura divulgava sua imagem como a de um perigoso “terrorista” – não suplantam sua biografia de revolucionário exemplar. Em dezembro de 1979, quando seus restos mortais foram trasladados para Salvador, sua cidade natal, o escritor Jorge Amado, também Constituinte em 1946, proclamou: “Retiro da maldição e do silêncio e aqui inscrevo seu nome de baiano: Carlos Marighella”.

Em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo em 12 de novembro de 1984, Florestan Fernandes – importante nome da sociologia brasileira e ilustre militante do Partido dos Trabalhadores (PT) – disse:

“Um Homem não desaparece com a sua morte. Ao contrário, pode crescer depois dela, engrandecer-se com ela e revelar sua verdadeira estátua à distância. É o que sucede com Marighella. Ele morreu consagrado pela coragem indômita e pelo ardor revolucionário. Os carrascos trabalharam contra si próprios; ao martirizá-lo, forjaram o pedestal de uma glória eterna. Agora, este homem volta à atualidade histórica”.

Equacionamento dos desafios

Para Florestan Fernandes, as deficiências e os equívocos de Carlos Marighella resultaram de fatores incontroláveis e insuperáveis.
“Ele foi até onde seu dever exigia, sem meios para tornar a missão necessária realizável. A revolução proletária não é um ‘objetivo’ do partido revolucionário. Ela é, ao mesmo tempo, sua razão de ser, seu sustentáculo e seu produto, mas de tal modo que, quando o partido revolucionário surge, ele é um coordenador, concentrador e dinamizador das forças sociais explosivas existentes”, escreveu.

Como bem finalizou Florestan Fernandes, Carlos Marighella foi um sonhador com os pés no chão e a cabeça no lugar. Ele ainda desafia os seus perseguidores e merece dos companheiros de rota (e do antigo partido) que levem seriamente em conta sua tentativa de equacionamento teórico e prático dos desafios do movimento comunista no Brasil.


Osvaldo Bertolino é  jornalista

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