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Edição 155 > Candidaturas presidenciais definem dois campos em disputa
Candidaturas presidenciais definem dois campos em disputa
A profusão de candidatos converge para demarcações políticas e ideológicas bem definidas. À direita são dez candidatos, com projetos marcadamente neoliberais, apologistas do golpismo e defensores da agenda neocolonial. À esquerda há os candidatos do PSOL e do PSTU, mas os de maior projeção são Ciro Gomes, do PDT, e principalmente a coligação liderada pelo PT e o PCdoB

As convenções partidárias que definiram as candidaturas à sucessão presidencial de 2018 revelaram nitidamente dois campos em disputa. Dez candidaturas de direita, com variações de tons, são frutos da mesma árvore: o projeto neoliberal e neocolonizador que retomou as rédeas do país desde o golpe de 2016. Conforma-se, assim, o teatro da batalha, com as peças devidamente dispostas no tabuleiro do xadrez político.
Para girar o eixo das forças políticas, econômicas, financeiras e midiáticas dominantes, há candidaturas de diferentes matizes. O objetivo é atrair os votos de um amplo eleitorado, que vai do conservadorismo bem definido às aspirações de parcelas do povo que ainda não conseguem ver a real face desses candidatos.
Essa orquestração tem como estratégia levar para o segundo turno Geraldo Alckmin, da coligação liderada pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e formada por um leque partidário de direita e centro-direita. Até agora, apesar de dissimulações, é o candidato mais visceralmente ligado aos interesses internos e externos da grande finança, dos monopólios econômicos e do conservadorismo.
Com esse objetivo, o consórcio do golpe montou o ardil da candidatura de Henrique Meirelles, liderada pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), escalada para fingir o distanciamento entre Alckmin e o governo golpista de Michel Temer. A ideia é aglutinar, no segundo turno, todas as forças conservadoras em torno do tucano. Obviamente, se essa jogada não der certo e o tucano seguir patinando, eles buscarão outra opção.
No papel de coadjuvantes aparecem as demais candidaturas desse campo, todas com perfil político-programático análogo, embora com diferentes matizes. Há um deles que pode se tornar protagonista, posto que hoje é o segundo colocado nas pesquisas. Trata-se da chapa Jair Bolsonaro-Hamilton Mourão, liderada pelo Partido Social Liberal (PSL), de conteúdo fascista, que se apresenta com uma fachada falsamente patriótica, mas na verdade seu programa de governo é abertamente neoliberal e entreguista.
Álvaro Dias, do Podemos, é um pregador da criminalização da política, arauto dos métodos que atentam contra o Estado Democrático de Direito da Operação Lava Jato. Marina Silva, que apoiou Aécio Neves no segundo turno das eleições de 2014, da coligação Rede-PV, pontua com relevância nas pesquisas, e encena posicionamento político de centro-direita.
No eixo progressista, são três candidaturas. Apesar dos esforços para a unidade da esquerda desde já no primeiro turno, prevaleceu o desenho de uma relativa fragmentação. A chapa Ciro Gomes-Kátia Abreu, liderada pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT), tem um perfil voltado para o desenvolvimento nacional. A chapa Guilherme Boulos-Sonia Guajajara, do PSOL, é comprometida com o progresso social.
E a terceira chapa tem como candidato a presidente o maior líder popular do Brasil dos últimos tempos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Arbitrariamente preso e com a candidatura ameaçada por condenações maquinadas pelo “estado de exceção”, o ex-presidente lidera todas as pesquisas de intenção de voto. A candidatura de Lula foi reforçada com o engajamento de seu histórico aliado, o PCdoB. Manuela D’Ávila, que angariou apoios e prestígio como pré-candidata pela épica legenda dos comunistas brasileiros, será a candidata a vice-presidente de Lula. O posto de candidato a vice momentaneamente é ocupado pelo ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.
A aliança da coligação PT-PCdoB-Pros é um fato relevante, pois minora a fragmentação da esquerda e ainda pode galvanizar apoios de setores do PSB e de personalidades e lideranças do campo social, econômico, cultural progressista do país. Efetivamente, esse bloco de forças liderado por Lula nessa batalha que se anuncia difícil e acirrada pode sim ir para o segundo turno, e lá, com mais amplitude de alianças e apoios, disputar e vencer as eleições.
O campo progressista terá o desafio de concentrar o combate à agenda neoliberal e neocolonial. Esse norte lhe possibilitará uma relação de convergência, regida pelo objetivo de concretizar a quinta vitória do povo e das forças progressistas e democráticas. Cada uma dessas candidaturas (Lula, Ciro, Boulos) representa um caminho para a conquista do voto popular. É natural que haja entre elas disputa de projetos e de ideias, mas nenhuma pode perder de vista quem é o adversário: as candidaturas que, de um modo ou de outro, representam a agenda neoliberal e neocolonial.
Esse deve ser o centro da campanha eleitoral. Sempre existe saldo positivo no debate político, na participação do povo nos destinos do país. E numa sucessão presidencial como a deste ano, o combate ganha ainda mais relevância. Nela está em jogo nada mais do que a decisão sobre se seguiremos ou não pelo caminho do golpe. Cumpre mostrar a realidade que emergiu com a marcha golpista: um país alquebrado, que gerou desencanto cívico, estagnação econômica, debate político primitivo, corrupção institucionalizada e baixa autoestima em ser brasileiro.
O golpe interrompeu um projeto civilizatório, que fez o país passar por um tempo consistente respirando os ares do debate democrático, refletido, e de consideração pelos anseios populares. Resgatar a memória desse período é uma grande notícia para as forças progressistas e uma péssima notícia para os golpistas. Por isso, a direita não deixa o jogo ser jogado. Ao invés de termos onze jogadores vigiados por um juiz apenas — rigoroso, imparcial, que conheça o seu lugar e só apite quando e onde se fizer necessário —, temos onze juízes vigiando o mesmo jogador: o ex-presidente Lula.
Não convém, para eles, que a democracia seja aplicada. Onde impera a democracia de massas, os líderes da administração pública só chegam a seus cargos pelo voto do cidadão e por defenderem um governo preocupado com a inclusão social, planejando os investimentos de forma organizada e privilegiando as áreas básicas para promover a democracia e buscar a equalização de duas grandes necessidades brasileiras: sermos desenvolvimentistas de verdade, no âmbito da economia, e solidários, humanistas de verdade, no trato das questões sociais.
Os candidatos a presidente e seus respectivos vices:
Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Haddad e Manuela D´Ávila (PT, PCdoB e Pros); Ciro Gomes e a senadora Kátia Abreu, pelo PDT (coligação PDT e Avante); Vera Lúcia e o professor Hertz Dias (PSTU); Guilherme Boulos e Sônia Guajajara (coligação PSOL e PCB); João Goulart Filho e o professor Léo Alves (PPL); Jair Bolsonaro e o general Hamilton Mourão (coligação PSL e PRTB); Marina Silva e Eduardo Jorge (coligação Rede e PV); Álvaro Dias e Paulo Rabello de Castro (coligação Podemos, PSC, PRP e PTC); José Maria Eymael e o pastor Hélvio Costa (Democracia Cristã); João Amoêdo e Christian Lohbauer (Partido Novo); Henrique Meirelles e o ex-governador do Rio Grande do Sul Germano Rigotto (coligação MDB e PHS); Geraldo Alckmin e a senadora Ana Amélia (coligação PSDB, PP, PTB, PSD, SD, PRB, DEM, PPS e PR); e Cabo Daciolo e Suelene Balduíno Nascimento (Patriota).
*Redação